Até a década de 60, o texto poético apresentado nas escolas atendia aos interesses da moral e do civismo da vida adulta. Tido como um aconselhamento aos pequenos leitores sobre como pensar e agir conforme os padrões dos adultos.
A experiência, interesses e o cotidiano infantil eram desprezados nessas produções poéticas e somente a partir dos anos 60 é que a poesia descobriu a palavra como um jogo com ritmo e musicalidade.
Esta forma de fazer poesia agradou e vem agradando, não só as crianças mas aos leitores de qualquer idade.
Este gênero tem sido amplamente utilizado nos livros didáticos, principalmente nos anos iniciais e autores como: Cecília Meireles, Sérgio Caparelli, Elias José, José Paulo Paes e Vinícius de Moraes, são os que aparecem regularmente.
Poema de Cecília Meireles escrito em 1964 e que deu título ao seu livro.
Ou Isto Ou Aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
E vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Vinícius de Morais, Esta poesia é letra de uma música . Transforma em estranho o conhecido, desconstruindo verso a verso a noção de casa e construindo uma ausência muito engraçada.
A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
Mário Quintana
Poeta gaúcho, passou grande parte de sua vida em Hotéis. Residiu no Magestic, hoje transformado em Centro Cultural e leva seu nome.
Canção da garoa
Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...
Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...
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