É
na escola e na interação social que ela proporciona que a criança aprende a se
tornar autônomo e a ser capaz de exercer esta autonomia com responsabilidade. (MARQUES, 2015)
Iniciei
esta atividade com esta frase, por acreditar que as ações pedagógicas a serem
desenvolvidas em sala de aula, não se referem somente ao planejamento da
professora quanto as atividades que realizará com seus alunos. Pensar em um
ambiente de aprendizagem é também pensar nas trocas sociais, cognitivas e
psicológicas que os alunos fazem ao interagir com todo o espaço escolar.
Desta
forma, acreditando que a criança constrói seu conhecimento tanto do “conteúdo”
escolar como também do mundo, acredito em um ambiente onde o diálogo entre
todos se realize de forma a se respeitar a diversidade do aprender, do ser e
dos saberes que permeiam os espaços escolares.
Nestes
últimos três anos, conheci muitas salas de aula e pouco percebi deste diálogo ocorrendo.
Vi professores preocupados em desenvolver os conteúdos programados desde o
início do ano, como se apreender tais conteúdos fosse o único objetivo da
escola. Não percebem que a aprendizagem deveria ser a base para se encontrar o
conteúdo e de que isto deveria vir do interesse destes alunos.
Poucos
professores acreditam no trabalho em grupo e na interação que esta forma de se
conviver pode promover e com isto se vê alunos sentados uns atrás dos outros,
enfileirados como se assim posicionados, pudessem ficar atentos ao professor.
Estes educandos afirmam terem medo de um fazer diferente, pois as crianças
ficam de conversas sobre assuntos diversos sem prestar atenção a aula que
acontece na frente. Poucos são aqueles que se permitem experimentar e se assim
o fizessem perceberiam que a agitação é porque estes alunos não estão
acostumados a interagir entre eles com o objetivo de trabalhar uma matéria em
sala de aula.
As
paredes, quando decoradas com trabalhos que a turma realiza, na maioria das
vezes feita por crianças dos anos iniciais, pinturas em desenhos previamente
copiados. Poucos são os trabalhos com autoria e que represente a diversidade de
assuntos que podem ser trabalhados em uma mesma aula. Pouco se vê na decoração
da sala de aula a identidade da turma.
E
sentados uns atrás dos outros, em uma sala de aula pouco estimulante ao querer
aprender, esquecidos do “perguntar” que toda a criança faz desde antes mesmo de
entrar na escola, com um professor de costas passando a matéria em quadro de
giz ou em um mais moderno como o quadro branco, não resta-lhes muito a fazer:
agitam-se na maior bagunça, brigam uns com os outros, trocam mensagens no
celular ou simplesmente viram a cadeira e ficam de conversas com os colegas de
seu entorno. Aqueles que acreditam que a escola deva ser assim e pouco refletem
em um fazer pedagógico diferente, tentam em vão entender a matéria exposta no
quadro ou em um livro didático sendo lido por dois alunos, já que não têm o
bastante para serem distribuídos um para cada um da turma. E quando o professor
é um daqueles que afirma ter controle sobre a turma, que fala mais alto e que
exige uma organização quase que militar com seus alunos, estes, mesmo que
parecendo atentos, apenas decoram a matéria sem nunca saber para que servirá em
sua vida aquele determinado conteúdo.
Ao
se chegar à sala da Direção ou da Supervisão, muitos celulares retirados dos
alunos com a alegação dos professores de deixá-los desatentos ou de
preocuparem-se somente com as conversas nas redes sociais. Contudo, o mesmo
professor que retirou o aparelho do aluno alegando proibição, atende a chamada
em sala de aula sem se preocupar em dar qualquer explicação de necessidade para
a turma, ou pensa que ninguém percebe quando o faz nos corredores, realizando
ou atendendo chamada e até mesmo interagindo nas suas redes sociais.
É
preciso que a própria escola se perceba como realmente é, que reflita sobre
suas ações e principalmente que aprenda a ter o diálogo como seu primeiro
princípio, não só no seu PPP, mas no seu dia a dia. Quando a escola conseguir
falar a mesma linguagem que as crianças e jovens, quando souber ouvir o
coletivo, quando se inteirar do contexto social em que seus alunos estão
inseridos, quando considerar o afeto e acreditar que todos são capazes, quando
conceber uma educação que tenha como base as aprendizagens e não aqueles
conteúdos fechados e pouco flexíveis, teremos assim, uma escola que concebe uma
educação para todos, uma escola que age para a diversidade, enfim, uma escola
participativa, afetiva e democrática.
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