1.
CONCEPÇÕES
E PRINCÍPIOS
São
muitos os desafios que vivenciamos nos últimos anos na busca da garantia de uma
escola democrática, em que todos os alunos tenham acesso a uma educação de
qualidade.
Aprender
a ler e escrever é um direito de todos, que precisa ser garantido por meio de uma
prática educativa baseada em princípios relacionados a uma escola inclusiva.
A
discussão sobre currículo envolve diferentes aspectos, tais como os
conhecimentos escolares, os procedimentos e as relações sociais que conformam o
cenário em que os conhecimentos se ensinam e se aprendem, as transformações que
se deseja efetuar nos alunos, os valores que se deseja inculcar e as
identidades que se pretende construir. Assim, para Moreira e Candau (2007,
p.18) “[...]as experiências escolares que se desdobram em torno do
conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção
das identidades de nossos/as estudantes”
Em
relação ao ensino da leitura e da escrita, como abordado por Braslavsky (1988),
as práticas de alfabetização baseadas em diferentes métodos de ensino
(sintéticos e analíticos) que até hoje se fazem presentes em algumas escolas
começaram a se desenvolver a partir do século XVII em um contexto de mudanças
históricas orientadas por novos modelos sociais que passaram a demandar a
leitura e a escrita em uma época em que a maioria da população ainda era analfabeta.
Até
meados da década de 1980, a
discussão acerca das práticas de alfabetização se relacionava principalmente ao
debate sobre os métodos mais eficazes para ensinar a ler e escrever, que
envolviam os sintéticos, analíticos e analítico-sintéticos. Tais métodos,
apesar de se diferenciarem no que se refere à unidade da língua que serviria
como ponto de partida para o ensino da leitura e da escrita (letras, fonemas,
sílabas, palavras, textos), se assemelhavam em muitos aspectos. Todos se
baseavam em uma concepção de leitura e escrita como decodificação e
codificação.
Partia-se
do pressuposto de que todos os alunos iniciavam o processo sem conhecimento
algum sobre a escrita e que cabia aos professores o ensino das letras, sílabas
e palavras. Ao aluno, nessa concepção, cabia um papel passivo de “recebedor” de
algo pronto: a língua.
Por
muito tempo, acreditou-se que o fracasso escolar, que, a partir da década de
1970, com a democratização do acesso à escola, atingiu índices preocupantes,
estaria relacionado à falta de capacidades individuais dos alunos provenientes
principalmente do meio social desfavorecido.
Além
de garantir a prontidão para a alfabetização, era preciso assegurar que os
estudantes aprendessem o código escrito. Mudava-se a cartilha ou o método utilizado,
mas as práticas continuavam pautadas em um programa curricular voltado para a
aprendizagem do código, desvinculado dos usos sociais da leitura e da escrita,
que desconsiderava os conhecimentos que as crianças possuíam sobre a escrita.
Muitos
alunos, inclusive, iniciavam a 1ª série lendo e escrevendo palavras e textos.
Para estes, as atividades escolares além de repetitivas, não os faziam evoluir
em suas aprendizagens. Nessa perspectiva, esses alunos, ao não serem atendidos
em suas necessidades, eram, de certa forma, excluídos do processo de
ensino-aprendizagem, embora não fossem desvalorizados, já que apresentavam, no
geral, as respostas corretas nas atividades realizadas. Já as crianças que
cometiam erros e concluíam o ano sem o domínio do código escrito, engrossavam
as estatísticas cada vez mais crescentes de repetência e evasão escolar, sendo
“excluídos” em seus direitos de aprendizagem da leitura e da escrita.
Nesse
contexto, as crianças que apresentavam necessidades especiais eram segregadas em
salas específicas e muitos dos alunos que fracassavam nas salas de aula
regulares eram avaliados como “deficientes” e somente a partir da década de 1980, a temática da
exclusão/inclusão educacional passou a ganhar força.
Na
perspectiva de uma Educação inclusiva, os estudantes não são mais vistos como
idênticos e o professor ao planejar leva em conta a necessidade de estabelecer diferenças nas atividades pedagógicas.
E, nesta direção um currículo multicultural implica em propostas curriculares
inclusivas que compreendem as
diferenças e valorizam os alunos em suas especificidades, seja cultural,
linguística, étnica ou de gênero, o que amplia o acesso à alfabetização a um
maior número de crianças, além de respeitar os seus direitos de aprendizagem.
2. AMPLIANDO O DIREITO DE APRENDIZAGEM A TODAS AS
CRIANÇAS
Ao
elaborar a proposta curricular do ciclo de alfabetização, é preciso tomar decisões
básicas que envolvem questões relacionadas a “o que”, “para que” e ao “como”
ensinar articuladas ao “para quem”. Tais questões estão atreladas ao conteúdo,
às experiências, aos planos de ensino, aos objetivos, aos procedimentos e
processos avaliativos.
De
acordo com Veiga (2006), essas decisões estão relacionadas à (i) relevância do
conteúdo (devemos saber que ele não é neutro, e sim marcado pelo interesse das
diferentes classes sociais); (ii) intencionalidade (é necessário definir a
intencionalidade para alcançar a finalidade em função dos objetivos); (iii)
tipo de conteúdo, pois esse deve ser significativo e crítico (é preciso
privilegiar a qualidade desses conteúdos, e não a quantidade de informações, e
ainda, a seleção desse conteúdo deve estar relacionada com a realidade social
dos alunos).
A
consideração da interdisciplinaridade como elemento estruturante do plano
curricular no ciclo de alfabetização aponta para a necessidade de planejarmos a
organização do tempo sem fragmentar as áreas de conhecimento.
Por
serem vistos como meio e não fim, os conhecimentos devem interagir em uma
dinâmica pedagógica integrada e integradora, elaborada em situações de diálogos
pautados em uma discussão reflexiva por meio do planejamento pedagógico
coletivo e contextualizado, e fundamentada no
contexto escolar.
3. AVALIAÇÃO
Partindo
do princípio da inclusão em uma primeira implicação é que avaliamos para
favorecer aprendizagens e não para legitimar as desigualdades perversas que
servem, na maior parte das vezes, para promover a exclusão e a competitividade.
Assim, a avaliação precisa ser encarada como uma forma de compreender o que os
estudantes já sabem ou ainda não sabem sobre determinados conhecimentos
escolares, quais são suas concepções, para planejar uma ação educativa que
possa ajudá-los a aprender mais e avançar no processo de apropriação de
conhecimento.
Segundo
(SILVA, 2003, p.14) “[...] a avaliação cruza o trabalho pedagógico desde seu
planejamento até a execução, coletando dados para melhor compreensão da relação
entre o planejamento, o ensino e a aprendizagem e poder orientar a intervenção
didática para que seja qualitativa e contextualizada.”
Sabemos que não existe turma homogênea, cada
estudante tem suas especificidades, as quais precisam ser atentamente observadas,
a fim de que possamos desenvolver atividades, ajudando-os a ganhar autonomia em
leitura e produção de texto. E que também, não é tão simples atender a todos os
estudantes. Este atendimento implica provocar, desafiar, levar a refletir sobre
o Sistema de Escrita Alfabética, entender os textos que lê.
Ensinar
é uma provocação e só ensina quem aprende; sem esta concientização, não
atingiremos o objetivo desejado: as aprendizagens dos estudantes, em todas as
áreas do conhecimento.”
Referência:
Síntese retirada dos Cadernos de formação do PNAIC.
Brasil.
Secretaria de Educação Básica.
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto
nacional pela alfabetização na idade certa : currículo inclusivo : o direito de
ser alfabetizado : ano 1, ano 2 e ano 3 : unidade 1 / Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. --
Brasília : MEC, SEB, 2012
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