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26 de setembro de 2013

Epistemologia Genética

      A Epistemologia Genética foi criada pelo biólogo Jean Piaget (1896-1980), sendo ela uma teoria psicológica para explicar a aprendizagem e o desenvolvimento humano.
      O termo Epitemologia é a teoria da ciência ou o estudo do conhecimento científico. O termo Genética, neste caso, é relativo à gênese, origem, portanto Epistemologia Genética é o estudo da origem do conhecimento humano.
      O empirismo encontrava dificuldades em explicar as diferenças de concepções em indivíduos aos quais foram ensinadas as mesmas coisas e, sobretudo, a produção de conhecimentos novos. Já o inatismo, sustentava que o comportamento e o conhecimento humano eram o resultado de capacidades inatas, não explicava quando surgiam, porque apareciam em momentos diferentes e porque eram diferentes em distintos indivíduos.
      Piaget, por interessar-se em como surge o conhecimento humano, propôs uma explicação segundo a qual este conhecimento é o resultado da interação contínua entre sujeito e a realidade que o cerca. Ao agir sobre a realidade vai construindo propriedades da mesma, ao mesmo tempo em que constrói sua própria mente. Essa posição foi chamada de construtivismo.
      Para Piaget, segundo Becker (2007), o conhecimento não é uma cópia da realidade e de que para se conhecer um objeto ou um acontecimento não é simplesmente ao olhar, fazer uma cópia mental ou imagem do mesmo. Para conhecer o objeto é necessário agir sobre ele e conhecer é modificar, transformar o objeto e compreender o processo desta transformação e, consequentemente, compreender o modo como este objeto é construído.
      Esta operação é a base do conhecimento, uma ação interiorizada, reversível, pois pode ocorrer nos dois sentidos (como juntar e separar) e nunca isolada, já que uma operação é ligada a outras operações e como resultado é parte de uma estrutura total.
      São essas estruturas operacionais que constroem a base do conhecimento e o desenvolvimento destas estruturas se dão em estádios, sendo os quatro grandes:

1) Sensório motor (préverbal) aproximadamente os primeiros 18 meses de vida – desenvolvimento do conhecimento prático que constitui a subestrutura do conhecimento representativo posterior.
Ex.: Durante os primeiros meses, para um bebê, um objeto não tem permanência e quando este desaparece do campo perceptivo deixa de existir. De início não tentará pegá-lo novamente e somente o fará após mais t6arde. Então tentará encontrá-lo e alcançá-lo. Junto com a construção de permanência surge a construção do espaço prático sensório-motor e assim construindo uma série de estruturas que são indispensáveis para o pensamento representativo seguinte.

2) Representação pré-operatória – Neste segundo estádio temos o inicio da linguagem, da função simbólica e, assim, do pensamento ou representação. Neste se dá uma reconstrução de tudo o que foi desenvolvido no nível sensório motor, isto é, as ações sensório motoras não são imediatamente transformadas em operações. Ainda não há conservação, que é critério psicológico da presença de operação reversível.
Ex.: Quando colocado uma certa quantidade de líquido em recipientes de formatos diferentes, a criança em fase préoperatória pensará que há mais em um do que em outro. Na ausência de reversibilidade não há conservação da quantidade.

3) Operatório concreto – Nesta estádio aparecem as primeiras operações porém o pensamento ocorre na presença dos objetos e não sobre hipóteses expressadas verbalmente.
Ex.: A criança ordena, classifica na presença dos objetos, manipulando-os.

4) Operatório Formal – Nesta quarta estrutura, a criança começa a alcançar o nível de operações formais ou hipóteses dedutivas, isto é, não precisa mais da presença do objeto para raciocinar, e o mesmo se dá através de hipóteses.

      Para acompanhar o desenvolvimento da inteligência na criança, foco dos estudos de Piaget, o mesmo desenvolveu uma metodologia – Método Clínico - mais flexível que o teste padronizado na época, mas mais estruturada que a observação pura.
      Para Derval (2002) este método tem como característica ser um procedimento para investigar como as crianças pensam, percebem, agem e sentem. Procura-se descobrir o que não é evidente no que os sujeitos fazem ou dizem. O que está por trás da aparência das condutas, seja em ações ou palavras.
      A intervenção sistemática do experimentador (pesquisador) diante da conduta do sujeito (criança) é a característica principal do método clínico, pois sua essência não está na conversa, mas sim no tipo de atividade do experimentador e da interação com o sujeito pesquisado. Isto pode ocorrer seja qual for a conduta: verbal, de manipulação de um objeto com explicação ou por si mesma. É esta intervenção sistemática do experimentador diante da atuação, das respostas às suas ações ou explicações do sujeito, que o diferencia de outros métodos.

Alguns conceitos:

Assimilação:
      Para a fisiologia assimilar o alimento é retirar partes deste alimento para transformar em energia. Na epistemologia a assimilação assume um caráter semelhante. Nos processos cognitivos - na relação sujeito/objeto, quando uma pessoa entra em contato com o objeto de conhecimento ela retira desse objeto algumas informações e as retém, e são essas informações, e não todas, e nem outras que são retidas porque existe uma organização mental a partir de estruturas já existentes.
      Na assimilação cognitiva o objeto é integrado no campo de aplicação dessas estruturas, não se reduzindo a uma simples identificação, mas a construção de estruturas incorporando elementos novos nos esquemas anteriores. A inteligência modifica sem cessar esses últimos para ajustá-los aos novos dados.

Acomodação
      Piaget designou acomodação.como uma variação de comportamento e não uma mera reação a determinados estímulos, pois a capacidade de variação das estruturas mentais deixa claro que mesmo as mais simples reações não são processos simplesmente mecânicos; a acomodação é a origem do processo de aprendizagem.
      Consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa "o momento da ação do objeto sobre o sujeito" Conhecer um objeto é assimilá-lo, mas como este objeto oferece certas resistências ao conhecimento é necessário que a organização mental se modifique. Como as estruturas mentais são flexíveis e capazes de se transformar elas são utilizadas em variadas situações e de maneiras diferentes. A acomodação é, nas palavras Piaget, "esse resultado das pressões exercidas pelo meio”.
      Por esse motivo, o conhecimento é sempre um processo de assimilação e acomodação.

Equilibração
      O sujeito, ao entrar em contato com um objeto desconhecido, pode entrar em conflito com esse objeto, ou seja, no processo de assimilação, o que é novo, às vezes, oferece certas resistências ao conhecimento e para conhecer esse objeto o sujeito precisa modificar suas estruturas mentais e acomodá-las. E é a esse processo de busca do equilíbrio dessas modificações que Piaget denominou equilibração.
      O desenvolvimento é, para Piaget, "em um certo sentido, uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio a um estado de equilíbrio superior" (1976, p.123) e a equilibração é um processo "que conduz de certos estados de equilíbrio aproximado a outros qualitativamente diferentes, passando por múltiplos desequilíbrios e reequilibrações" (1975, p. 9). É um processo dialético que envolve equilíbrio - desequilíbrio - reequilíbrio, e é por esse motivo que ele preferiu o termo equilibração, e não equilíbrio, que daria a impressão de algo estável, justamente para sugerir a ideia de algo móvel e dinâmico

Esquemas:
      Partindo de esquemas gerais, frutos dos primeiros exercícios dos reflexos, a criança vai construindo conjuntos de novas estruturas, construindo um “arquivo” de vários esquemas.
      A cada novo objeto, primeiramente o sujeito tenta enquadrá-lo aos seus esquemas prévios, ou seja, assimilá-lo. Porém, diante da resistência do objeto, quando os esquemas prévios não dão conta de garantir o reconhecimento das diferenças, o sujeito acomoda-se ao objeto, isto é, modifica suas estruturas ou cria um novo esquema para classificar aquele objeto e (re) conhecê-lo.

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